A unidade de produção de veículos da Volkswagen (VW) em Portugal, Autoeuropa, é um dos pilares da indústria da manufatura portuguesa e da economia do país em geral. Mas será que enfrenta um futuro incerto? José Pontes, diretor de dados da EV-volumes.com, examina as perspetivas da empresa sediada em Palmela.
A Autoeuropa é uma peça vital da economia portuguesa. Sendo o principal exportador de veículos, foi responsável por 1,4% do PIB de Portugal em 2020. No local estão empregadas mais de 5.000 pessoas, 98% das quais estão efetivas. Há até quem tenha referido a necessidade de não uma, mas cinco estruturas deste calibre, para que o país possa desenvolver uma economia mais competitiva.
Pois embora o turismo proporcione a criação de muitos trabalhos em Portugal existe uma necessidade de vagas para trabalhos com salários capazes de igualar os dos países mais desenvolvidos. O que significa produzir produtos e serviços de elevado valor, tal como a Autoeuropa produz.
Ainda assim, e embora seja uma verdadeira referência na área da produção em Portugal, as perspetivas para a fábrica são incertas. O jornal online Eco, em março, citou Miguel Sanches, diretor geral da fábrica. Que considerando o início de um novo ciclo de produção, alertou para um “clima de grande incerteza e vulnerabilidade global devido à pandemia, e para um contexto de mudança na indústria automóvel”. Acrescentou ainda que: “teremos de encontrar argumentos para nos posicionarmos de forma competitiva em relação à concentração da capacidade de produção na Europa Central”.
Fabrico de diversos modelos
Durante anos a Autoeuropa fabricou vários modelos simultaneamente. A partir de 1995, surgiram o VW Sharan, o SEAT Alhambra e a Ford Galaxy. Mas depois de perder o modelo da Ford, a fábrica começou a construir o VW Eos em 2006 e o Scirocco em 2008. Quando o fabrico comercial destes dois modelos terminou, começou a produção do SUV compacto, e do VW T-Roc, em 2017.
À medida que a produção do VW Sharan e do SEAT Alhambra chegou ao fim, no ano passado, o T-Roc tornou-se o principal produto produzido em Palmela, fazendo com que a fábrica ficasse mais suscetível aos ventos da mudança presenciados na indústria automóvel atualmente, incluindo a eletrificação e a digitalização.
Em agosto de 2021, 22% dos registos europeus de automóveis de passageiros eram veículos de carregamento elétrico (VEs), 12% dos quais eram veículos elétricos a bateria (BEV). As marcas de automóveis estão a pôr termo à produção de modelos de combustíveis fósseis, com várias marcas já a anunciar que as próximas gerações dos seus modelos mais vendidos serão 100% elétricos. Então como é que isto afeta a Autoeuropa?
Fabrico de baterias
O novo conceito de comercialização em massa do BEV da VW, o ID.Life, foi revelado na IAA Mobility há apenas algumas semanas. A sua produção está prevista, dentro de três anos, na fábrica da SEAT da Catalunha. As versões da Cupra e da Skoda do mesmo modelo também lá serão construídas.
Isto deixa a Autoeuropa dependente do T-Roc, que por esta altura se encontra no mercado há já sete anos, e que se aproxima do fim da sua vida comercial. Para piorar a situação, Portugal não têm quaisquer planos para giga fábricas de baterias, tal como pode ser visto no mapa publicado pela Battery-news.de.
A bateria é um componente elétrico essencial, o bom senso dita que as instalações de produção devem ser perto de uma fábrica de VEs. Mas sem planos para um local de fabrico de baterias próximo de Palmela, o futuro da Autoeuropa levanta muitas dúvidas.
Este é um tema fundamental que está em falta na agenda de Portugal, que pelo contrário, noutros países europeus, em particular na sua vizinha Espanha, já estão a ponderar a construção de giga fábricas. A Espanha já percebeu que sem fábricas para fabricar baterias próximas do local não haverá fabrico de automóveis.
Em Itália, o construtor de giga fábricas Italvolt estabeleceu uma parceria com a empresa de tecnologia ABB. As duas empresas pretendem levar a eletrificação e automatização a um local de 100 hectares no norte do país.
Sem eletrificação, a probabilidade é que para a VW, será muito mais fácil fechar uma fábrica num país com um mercado pequeno, como Portugal, do que em países como a Espanha ou a Polónia.
O futuro de Portugal
Com o sucessor esperado do T-Roc, o ID.2, a ser fabricado na Catalunha, não há solução imediata para a fábrica de Palmela. Investir fundos do Plano de Recuperação e Resiliência Português (PRR) numa fábrica de baterias local seria, portanto, sensato. Isto reforçaria o futuro da Autoeuropa e poderia atrair outros fabricantes para Portugal, nomeadamente Fabricantes de Equipamentos Originais chineses, que se estão a preparar para entrar no mercado europeu.
Se não for feito qualquer investimento é provável que o país perca a corrida para a sua competição que é mais diligente. Por exemplo, o presidente da SEAT, Wayne Griffiths, está a pressionar o governo espanhol para assegurar que a fábrica da SEAT na Catalunha seja reconhecida nos esforços de recuperação espanhóis:
Tal mudança permitiria à VW realizar a sua ambição de produzir VEs em massa porque, juntamente com o ID.2, há também a questão de onde fabricar o VW ID.1 Este modelo mais pequeno poderia tomar o lugar do T-Roc na Autoeuropa, mas para que isso aconteça é imperativo uma giga fábrica de baterias.
Este conteúdo foi-lhe apresentado pela Autovista24.
Note-se que este artigo é uma tradução do original publicado em inglês na Autovista24 e, por conseguinte, poderá conter pequenos erros ortográficos. Caso verifique qualquer discrepância ou inconsistência entre o original e a tradução, a versão que prevalecerá será sempre a inglesa. 4. Este conteúdo foi-lhe apresentado pela Autovista24.