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Economia circular e a indústria automóvel: a transição para carros com zero emissões de carbono

Autovista24 | 07 Mar 2022

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Economia circular

A sustentabilidade e as estratégias para a economia circular, caminham de mãos dadas, os carros são o melhor produto para revender, reaproveitar para o fabrico e reciclar. Os fabricantes de carros também se focam cada vez mais em tornar a produção de veículos e cadeias de abastecimento mais limpas. A jornalista da Autovista24, Rebeka Shaid, considera algumas das abordagens circulares na indústria automóvel para produzir o carro com zero emissões de carbono, olhando para os esforços da Skoda, BMW, e uma promissora start-up holandesa, a Circularise, que espera fazer com que a indústria automóvel se torne mais circular.

Embora os fabricantes de automóveis enfrentem inúmeros desafios à medida que transitam para formas mais limpas de eletromobilidade, o consenso comum é que a indústria precisa de olhar para além dos veículos elétricos a bateria (BEVs) para descarbonizar o transporte. Estabelecer estratégias concisas para uma economia circular pode ajudar o setor automotivo a reduzir as emissões de carbono produzidas pelos automóveis durante o seu ciclo de vida. Mas o que é necessário para que um veículo seja verdadeiramente circular?

Zero desperdícios de resíduos de carbono

Esta é uma questão que o Fórum Económico Mundial e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável estão a tentar abordar depois de criar a Iniciativa Carros Circulares. O projeto tem uma agenda bem definida: aumentar a sustentabilidade ambiental da mobilidade.

Ao ver como as novas tecnologias e modelos de negócios podem fechar os ciclos de materiais e produção, a principal ideia é que um carro com zero emissões de carbono seja “um veículo que atingiu todo o seu potencial no que respeita à eficiência do carbono.”. Embora os peritos da indústria admitam que a cadeia de valor automóvel poderá nunca estar livre de emissões, esta pode ser melhorada ao focar-se no desperdício de materiais com zero emissões de carbono.

Afinal, uma economia circular baseia-se no princípio da reutilização e reciclagem de recursos, incluindo tudo, desde os pneus até à carroçaria do veículo, com o objetivo de prolongar a vida útil dos automóveis e dos seus componentes. Pode implicar a partilha, aluguer, reparação, remodelação e reciclagem de materiais e produtos pelo máximo de tempo possível. Considerando que a UE é responsável por mais de 2,5 mil milhões de toneladas de desperdício, anualmente, e que a quantidade de material incluído numa economia circular a nível mundial é de apenas 8,6%, cuidar dos recursos é crucial.

Fechar o ciclo no fabrico de carros

A diretiva da UE, relativa aos veículos em fim de vida, estabelece que 95% do material dos veículos de passageiros e carrinhas precisa de ser reutilizável ou recuperável, dependendo do peso do veículo. Estabelecer metas e objetivos claros contribui seguramente para limitar os resíduos dos automóveis e dos seus componentes. As empresas do setor automóvel trabalham constantemente para melhorar o seu grau de circularidade, o qual vai ganhando contornos nas mais variadas formas.

O fabricante de automóveis checo Skoda, que faz parte do Grupo Volkswagen (VW), disse à Autovista24 que está ativamente empenhado na aplicação dos princípios de uma economia circular. “Seguimos quatro princípios-chave: minimizamos os impactos negativos no ambiente, diminuímos a entrada de recursos e a perda desses recursos, maximizando a circulação dos recursos”, disse Martina Stápittová, do departamento de comunicação empresarial da Skoda na República Checa.

Fonte: Skoda

Esta também acrescentou que o fabricante de automóveis está a trabalhar com uma equipa interdisciplinar para implementar estes conceitos e em coordenação com o departamento de ecologia e proteção ocupacional. Sécittová, sublinhou que a economia circular é “uma parte integrante” da estratégia da Skoda. A marca coopera em proximidade com empresas de reciclagem e fornecedores para reduzir os materiais primários e prolongar a vida útil dos materiais usados. A utilização eficiente de recursos, segundo a própria, também traz benefícios financeiros.

Então, quais são alguns dos marcos da Skoda na vanguarda da sustentabilidade? “Nos locais de produção checos, temos zero resíduos de produção enviados para aterros. O que significa que todos os resíduos de produção são materialmente ou energeticamente reutilizados”, disse, acrescentando que a Skoda também expandiu as suas atividades circulares para os seus locais de produção na Índia e na Rússia.

O fabricante de automóveis utiliza capas para bancos feitas a partir de garrafas PET recicladas, combinando lã com poliéster reciclado. Está também envolvido em projetos-piloto centrados na reutilização de vidro, retirado de automóveis em fim de vida, para o utilizar em novos processos de fabrico. Na sua oficina de pintura, a Skoda utiliza calcário moído, que absorve partículas residuais de tinta, eliminando assim a necessidade de água num processo conhecido como “separação a seco”.

Afastar-se de uma economia linear – que envolve a recolha de matérias-primas, para o fabrico de um único produto apenas para ser descartado no fim – não é uma ideia insólita, sendo ainda, em grande parte, a norma que impera na indústria automóvel. Um dos fabricantes de automóveis que espera mudar isto é a BMW, que pretende “tornar-se a empresa automóvel mais sustentável do mundo”.

A abordagem “holística” da BMW

O fabricante sediado em Munique causou estranheza no evento da IAA Mobility do ano passado quando apresentou um BEV totalmente reciclável – o i Vision Circular. Ainda que este carro conceptual só seja lançado em 2040, ilustra bem qual poderá ser a aparência de um carro circular.

O design está dependente dos materiais 100% recicláveis, tanto os velhos quanto os que são renováveis, e a BMW criou propositadamente o quadrilátero com a economia circular em mente. A superfície, por exemplo, é feita de alumínio secundário, enquanto os pneus são feitos a partir de borracha natural e certificada. A BMW disse que o interior é 100% sustentável, com o tablier impresso em 3D e produzido a partir de plástico reciclado. O pó de madeira, mais uma vez impresso em 3D, pode ser encontrado no volante. O design tem vindo a ser descrito como “disruptivo”.

Benedikt Fischer, porta-voz do Grupo BMW, explicou à Autovista24 como a empresa pretende reduzir a utilização de materiais primários no fabrico de automóveis. “Estamos a trabalhar para alcançar a sustentabilidade holística em todos os aspetos, aumentando gradualmente a percentagem de matérias-primas secundárias nos veículos”, disse. Neste momento, os veículos são fabricados com quase 30% de materiais reciclados e reutilizados. Com a nossa abordagem “Primeiro As Matérias-Primas Secundárias”, a percentagem de materiais reciclados e reutilizados deverá aumentar a um ritmo constante para 50%”.

Acrescentou que, no processo de produção, os grupos de materiais essenciais são separados e reciclados progressivamente, a BMW está também a tentar utilizar mais matérias-primas secundárias na sua cadeia de abastecimento, dependendo da disponibilidade do mercado. Um projeto-piloto iniciado com a empresa química BASF e a empresa de reciclagem Alba Group tenciona reduzir a utilização de plásticos primários.

Conceito de design circular

A Alba Group analisa os veículos em fim de vida, do Grupo BMW, para estabelecer se é possível a reutilização do plástico de um carro para o outro”, disse Fischer. Numa segunda fase, a BASF avalia se a reciclagem química dos resíduos pré-selecionados pode ser realizada, e assim obter o óleo de pirólise. O qual poderá então ser utilizado como base para novos produtos feitos a partir do plástico. No futuro, um novo revestimento da porta ou outros componentes poderão ser fabricados a partir de um painel de instrumentos usado”.

Fischer acrescentou que a BMW mudou o seu foco para um conceito de “design circular”, explicando que este garantiria a capacidade de desmantelamento económico dos veículos. “É essencial que a desmontagem do veículo e dos seus componentes individuais seja rápida e rentável. Tudo começa com a construção do veículo, que deve ser feita de modo a permitir a remoção de materiais, quando se chega ao final da vida útil do veículo, sem que os diferentes tipos de materiais sejam misturados uns com os outros”.

O fabricante de automóveis bávaro está também empenhado em aumentar a circularidade em torno do aço, um dos materiais que é altamente poluente, mas também 100% reciclável. A BMW assinou recentemente um acordo com um dos maiores produtores de aço da Europa, Salzgitter AG, para aumentar a utilização de aço com baixo teor em carbono, nas suas fábricas europeias, apelidando-o de um passo importante para reduzir substancialmente as emissões de CO2 na rede de fornecedores – e como a solução para tornar a indústria verdadeiramente sustentável.

Transparência na cadeia de abastecimento da indústria do fabrico de automóveis

A cadeia de abastecimento é responsável por 80% do total das emissões globais de gases com efeito de estufa, atualmente há cada vez mais fabricantes de automóveis a exigir a prova de que o material que estão a utilizar é sustentável. A start-up holandesa Circularise apoia esta missão. Ajuda as empresas a localizar materiais e produtos, com o objetivo de verificar as suas origens, certificados, e pegadas de CO2 – tudo através de uma blockchain.

O jovem negócio faz parte de um esquema de certificação financiado pela UE para materiais de terras raras, encontrados em veículos elétricos (VE), que são conhecidos por emitirem muitos gases. Este projeto de três anos, denominado Sistema Circular de Avaliação da Sustentabilidade de Terras Raras, aumentará a transparência em torno de práticas sustentáveis nas cadeias de abastecimento. O fundador e CEO da Circularise, Jordi de Vos, disse à Autovista24, que há uma procura crescente de materiais rastreáveis, especialmente de baterias.

Mas quando de Vos fundou a start-up em 2016, apercebeu-se que, na altura, não havia aparentemente nenhuma organização que pudesse fechar todos os ciclos quando se tratava de rastrear e seguir as origens dos materiais. “Na verdade, descobrimos que o principal bloqueio, atualmente, é a informação [e] se não se tem a informação certa, não se pode obviamente fazer a escolha certa”, disse.

Materiais digitalizados

Então como é que a empresa garante que os dados corretos são partilhados com todas as partes interessadas na totalidade da rede de abastecimento? Criando um sistema que, neste caso, rastreia as terras raras utilizando tokens da blockchain, ou passaportes digitais, através da rede de abastecimento, desde a exploração mineira até ao fim de vida. A Blockchain permite que ambas as partes registem informações de forma segura e certificável. Permite aos fornecedores descrever materiais e produtos, a Circularise acredita que esta oportunidade terá um grande potencial para a indústria transformadora.

De Vos frisou que a start-up está a colaborar com terceiros independentes para auditar os materiais a fim de assegurar a sua verificação. “Estamos a trabalhar em estreita colaboração com os auditores, para garantir que a introdução de dados no início é fidedigna. Pois só assim se pode garantir a integridade dos conhecimentos que se podem obter. Penso que também é importante compreender que a blockchain não é a solução para tudo. Mas apenas uma outra ferramenta à disposição.”

A empresa está a trabalhar com vários fabricantes de automóveis, incluindo a Porsche. Num projeto anterior, a Circularise ajudou a marca alemã a estabelecer a rastreabilidade dos plásticos, utilizando a blockchain, garantindo ao mesmo tempo a utilização de materiais sustentáveis nos carros da Porsche. De Vos revelou que a empresa também fez experiências com outros materiais, incluindo o alumínio, alguns produtos de aço, tintas, e ainda revestimentos. Sendo o fornecedor da transparência da blockchaine, a principal missão da Circularise é a de rastrear os materiais desde a fonte até ao produto, sem colocar em perigo a confidencialidade.

A empresa de consultoria McKinsey estima um aumento acentuado das emissões de materiais, que irá desde os 18% nas emissões do ciclo de vida dos veículos para mais de 60% até 2040. Embora este aumento represente um desafio, também poderá trazer novas oportunidades para alcançar o carro com zero emissões de carbono.

“Tenho a certeza de que haverá mais incentivos para a legislação sobre estes temas”, disse De Vos. “Sabemos que há mais procura por parte dos consumidores e das marcas automóveis. Nada o impede de rastrear o que coloca hoje no mercado, e pode não ter um benefício real a curto prazo”, disse. “Mas é uma forma de constituir uma reserva para o futuro, pelo menos em termos de dados, e esperemos que, daqui a 20 ou 30 anos, seja possível fazer melhores escolhas de reciclagem do que as que fazemos hoje”.

Com a maioria dos fabricantes de automóveis a almejarem tornar-se neutros, em termos de emissões de carbono, até à primeira metade deste século, se não antes, uma economia circular fornece um quadro para fazer essas escolhas de forma mais acertada – esperemos que não tenhamos de aguardar mais 20 anos para que estas empresas automóveis façam opções de reciclagem mais acertadas.

Este conteúdo foi-lhe apresentado pela Autovista24.

Note-se que este artigo é uma tradução do original publicado em inglês na Autovista24 e, por conseguinte, poderá conter pequenos erros ortográficos. Caso verifique qualquer discrepância ou inconsistência entre o original e a tradução, a versão que prevalecerá será sempre a inglesa.

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